Vim ao mundo como quem nasce, como todo mundo, qualquer
coisa, qualquer um. Nada especial, nada melhor que ninguém.
Desses olhos que passaram a enxergar todo o mundo visível, e
seguiram-se poros, narinas, ouvidos, fui seguindo experimentando o mundo e, em
muitas coisas meu coração captou ressonâncias, como um sino que provoca
reverberações no ar, como música que arrepia os sentidos.
E a vida passa a ser um reproduzir das melhores sensações
afetivas. Olhos, boca, ouvidos, narinas, poros, intuição e sonhos continuam sua
busca pelo êxtase que por instantes purga todo o mal, que transforma as
pequenezas do dia-a-dia num ninho de mesquinharias que não merecem sua atenção.
A trajetória humana passa a ser este captar, este ver,
perceber, recolher, comparar, selecionar, assimilar, ressonar.
De tanto fazê-lo, e de quando em quando (e quando não se
perde pelo caminho), esta coleta estende-se por se ter rompido os limites; ou
por se ter extrapolado a errônea noção de espaço.
Você se lança, se desprende neste espaço tempo onde tudo contempla.
Mas a vida é um desfile de pequenezas, alimentado por tantos
pequeninos que nelas acreditam, que delas se alimentam e, por não saciarem a
própria fome – por motivos óbvios – repetem sua receita cada vez mais alto a
ponto de alcançar o silêncio do mundo.
Mas quem se embevece do luar até pode ser perturbado por
tanto ruído. Cai nestas agruras, emaranha-se neste ninho, mas o coração também
grita as próprias delicadezas.
A existência se faz destas escolhas entre o sublime e o
tacanho, do tilintar da mente e do ressoar do universo. Uma pintura feita de
luz e sombra. Talvez uma busca pelo próprio paroxismo, a transcendência.
O mundo em mim e apenas o meu olhar sobre o mundo.
Carla Kalindrah – julho/2016
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