segunda-feira, 4 de julho de 2016

Nanquim - teste de resistência #artenaprática

“Criatividade é permitir-se cometer erros. Arte é saber o que manter." - Scott Adams

Ok, você decidiu encarar o papel e "soltar a mão no pincel".
Todo artista sabe o quanto cada obra, mesmo os estudos mais espontâneos e técnicos podem, por "acaso artístico", gerar aquele resultado que supre uma série de expectativas. Você é dominado pela meditação daquele momento criativo e voilá! Eis um trabalho pra uma vida inteira... SQN!

#fato1 - nem sempre temos os melhores materiais disponíveis para estudos - melhor não é preço; é resposta ao que se pretende e resistência ao tempo. Na mão de quem sabe até borra de café vira material!
#fato2 - geralmente deixamos os materiais mais baratos para os estudos e os mais caros para obras que dedicamos maior empenho; racionalmente é prático e faz sentido, mas no exercício podemos perceber que isto não é suficiente.... o que fazer?
#fato3 - a maioria "cai dentro" dos trabalhos sem ter antes feito testes de material, que geralmente continuam durante a execução do trabalho. Teste, teste mais, teste mais um pouco antes de dar qualquer pincelada que comprometa todo seu trabalho até ali.
#fato4 - então fazemos o quê?

Bom, dentro da lei do "sei q nada sei, mas desconfio de muita coisa" o negócio é brincar de testar muito, aproveitar pra brincar (mesmo!) com o que se tem. Nesta hora o custo dos materiais pode ser um entrave, mas não te impedem de explorar muito o que se tem e te deixar mais apto para aproveitar amplamente os sonhados materiais quando você puder.

Quesito Resposta do material
#ex.1 - borra de café: faça dela uma aquarela. Teste em materiais diferentes: sulfite (vai ondular e esfarelar), papelão poroso, papelão de caixa de congelado, canson em diferentes gramaturas, use pincéis diferentes, escova de dente, faça ranhuras, borras com os dedos... amplie as possibilidades. 
Tem pouco papel? Dá pra fazer 3 a 4 tiras num tamanho A4! Teste diferentes densidades ou pincéis no mesmo papel. Misture a borra com cola, cola e areia, detergente, sal.... veja o que acontece e guarde estas "faixas teste" como biblioteca referencial - anote o que fez atrás: mencione temperatura do dia (sim! importantíssimo!), estação do ano, período do dia, tipo de material, pincel e papel utilizados dentre outros ítens. Faça sempre 2 de cada experimento (adiante vc saberá pq).

#ex.2 - comparativo de materiais: então você tem duas ou mais marcas de aquarela (ou guache, ou lápis de cor...); Faça o teste de pigmentação comparativa!
Dentro do que você pretende, talvez o material mais barato atenda mais sua expectativa cromática/textura que o material mais caro. Já avaliou isto? A hora é esta!
Tem um PAP da Débora Fantini bem explicado de como fazer um estudo de cor no blog http://nocantodamesa.blogspot.com.br/2014/01/estudo-de-cores-aquarela.html

Mais uma vez faça duas tiras (ou folhas) de cada experimento e anote tudo atrás - não esqueça nenhum item, é importante! Repetindo: temperatura do dia, estação do ano, período do dia, tipo de material, pincel e papel utilizados dentre outros ítens. Se possível faça o mesmo teste em folhas, horário do dia e temperaturas diferentes. E aumente sua "biblioteca prática". No caso da aquarela até a água influencia! Mineral, fluoretada, salinizada, impressionante como muda a intensidade do tom, veladura, brilho.... pincel sempre limpo, não esquecer! Portinari escolhia seus alunos avaliando se os pincéis eram limpos adequadamente! xo xp XD

#ex.3 - Finalmente você vai pintar pra valer! Faça uma "brincadeirinha" em outro papel enquanto estiver executando seu trabalho. Esta folha servirá não só pra fazer testes de cor/textura/fusão antes de aplicar na obra, mas pra fazer o TESTE DE RESISTÊNCIA (lembram das 2 folhas? o mistério termina agora! rssss)




Fui brincar com nanquim da acrilex...

Ficha Técnica (aqueles ítens pra anotar atrás do trabalho)

  • estudo de perspectiva atmosférica
  • Julho 2016 - inverno - período tarde
  • temperatura 19graus
  • nanquim acrilex azul e verde s/canson 180gr
  • veículo água comum
  • pincel pictore tigre 14 448

Continuei no dia seguinte...

Ficha Técnica 

  • estudo botânico, brilho, transparência e veladura
  • Julho 2016 - inverno - período manhã
  • temperatura 22graus
  • nanquim acrilex azul e verde s/canson 180gr
  • veículo água comum
  • pincel condor 12 427

TESTE DE RESISTÊNCIA 
Fiz esta "brincadeira" enquanto pintei o primeiro trabalho. 
Objetivo: expor à luz pra saber a resistência do trabalho e indicar este cuidado futuramente atrás dos trabalhos que eu queira conservar ;) ou até mesmo usar como recurso! Viu que a luz provocou uma ilusória "neblina" entre as montanhas... algo que, seu fosse fazer no pincel talvez não resultasse a mesma suavidade e homogeneidade. Do lado esquerdo a luz da tarde desbotou a tinta bem mais que a luz da manhã. Basta você "eclipsar" as áreas de referência para comparação (eu coloquei tiras do mesmo papel sobre o trabalho).

Ficha Técnica 

  • RESISTÊNCIA LUMINOSIDADE
  • estudo de perspectiva atmosférica em turquesa
  • Julho 2016 - inverno - período tarde
  • temperatura execução 19graus
  • nanquim acrilex azul e verde s/canson 180gr
  • veículo água comum
  • pincel pictore tigre 14 448
  • ESQUERDA - 7 dias - luminosidade tarde
  • DIREITA - 7 dias - luminosidade manhã

  • 3 dias de sol pleno e 4 nublados - temp. entre 15 e 23graus
  • áreas íntegras eclipsadas por canson 180gr
#então.... é isso! Com o tempo você terá uma biblioteca visual de referência daquelas, e já vai saber o que acontece com a tinta antes de botar o pincel no papel! A questão da temperatura influencia decisivamente na qualidade de uma aguada uniforme, por exemplo, ou na intensidade de cores escuras (que ficam menos vibrantes). A hora do dia é bom pra você mapear que habilidades suas são mais eficientes em qual horário ;)
Está em busca de determinado efeito ou cor em seu trabalho? Consulte sua biblioteca!
Espero ter colaborado em seus estudos! E quem puder trocar figurinhas, serão sempre bem-vindas!

domingo, 3 de julho de 2016

A Contemplação na Arte #artenaprática


O primeiro “exercício” artístico consiste em acordar a sensibilidade.

Não somente o olhar, mas a percepção desta experiência. É olhar (ou ouvir, cheirar, tocar, provar) até sentir em si a ausência de palavras que poderiam descrever o que é percebido. Pausar o tempo, refrear o próprio ar que nos anima, alcançar com uma ação a pureza de estar presente.
Assim é o artista antes de tudo, um sentir sem freio, sem espaço-tempo. E que fervorosamente ou displicentemente tenta captar e comunicar com alguma linguagem a própria experiência.

Nesta obra “Luz da rua” de Giacomo Balla - 1909, veja como algo óbvio pode ser sublimado quando percebido integralmente.

A contemplação faz o artista captar e transmitir as suaves cintilações da luz. A imagem rapta nossos olhos e nossas breves ou ausentes experiências contemplativas. 
Percebemos o quanto perdemos ao não observar este óbvio que agora nos é tão querido. Somos enlevados.



E existem os mestres! Aqueles que extrapolam a própria experiência e transbordam num paroxismo que, aliado a técnica, nos raptam os sentidos e reverberam mundos dentro de nós.







Não há quem não repouse nas plácidas águas das “Ninféias” de Monet,




quem não fique enamorado pelo “Céu Estrelado” de Van Gogh,



quem não seja arrebatado pelo “Beijo” de Rodin


ou pelas simples mas monumentais linhas das construções de Niemeyer.



Contemplar as músicas atemporais, os sabores de várias culturas, a poesia e a prosa, o estar pleno e entregue quando em contato com a natureza, com a gargalhada de uma criança. Viva o presente em contemplação!


"Contemplar é a meditação do próprio silêncio." - Carla Kalindrah

Contemplação #almadeartista

O que é a contemplação senão o estado maior de ver todas as coisas.
Sentir o que é visto.


Contemplar é olhar como se na visão houvesse poros, tato, olfato, paladar; e realmente há.
Este estado maior é o transbordo do sentir, do perceber, do vivenciar o espelho da vida.

É ver o melhor.

Captar num passeio pelo externo o que existe de melhor no próprio mundo interno.

Contemplar é a meditação do próprio silêncio.


Carla Kalindrah – julho/2016

Existência #almadeartista

Vim ao mundo como quem nasce, como todo mundo, qualquer coisa, qualquer um. Nada especial, nada melhor que ninguém.

Desses olhos que passaram a enxergar todo o mundo visível, e seguiram-se poros, narinas, ouvidos, fui seguindo experimentando o mundo e, em muitas coisas meu coração captou ressonâncias, como um sino que provoca reverberações no ar, como música que arrepia os sentidos.
E a vida passa a ser um reproduzir das melhores sensações afetivas. Olhos, boca, ouvidos, narinas, poros, intuição e sonhos continuam sua busca pelo êxtase que por instantes purga todo o mal, que transforma as pequenezas do dia-a-dia num ninho de mesquinharias que não merecem sua atenção.
A trajetória humana passa a ser este captar, este ver, perceber, recolher, comparar, selecionar, assimilar, ressonar.
De tanto fazê-lo, e de quando em quando (e quando não se perde pelo caminho), esta coleta estende-se por se ter rompido os limites; ou por se ter extrapolado a errônea noção de espaço.

Você se lança, se desprende neste espaço tempo onde tudo contempla.

Mas a vida é um desfile de pequenezas, alimentado por tantos pequeninos que nelas acreditam, que delas se alimentam e, por não saciarem a própria fome – por motivos óbvios – repetem sua receita cada vez mais alto a ponto de alcançar o silêncio do mundo.
Mas quem se embevece do luar até pode ser perturbado por tanto ruído. Cai nestas agruras, emaranha-se neste ninho, mas o coração também grita as próprias delicadezas.

A existência se faz destas escolhas entre o sublime e o tacanho, do tilintar da mente e do ressoar do universo. Uma pintura feita de luz e sombra. Talvez uma busca pelo próprio paroxismo, a transcendência.

O mundo em mim e apenas o meu olhar sobre o mundo.


Carla Kalindrah – julho/2016

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